Usuários compartilham fotos de Ana em festas de Natal, alerta sobre manipulação digital com conotação sexual.
Cuidado: Esta matéria inclui informações que podem ser delicadas para alguns leitores. Estava no meio da jornada como garçom em um restaurante de São Paulo. Intervalo merecido — e uma rápida olhada no celular. Ana se surpreendeu com duas mensagens que chegaram pelo Instagram. Ambas mencionavam o assunto dos deepfakes.
No segundo momento, enquanto folheava as redes sociais, Ana se deparou com imagens falsas que a deixaram perplexa. Pareciam montagens habilmente feitas para enganar. A sensação de desconfiança a fez refletir sobre a veracidade das informações que consumia diariamente. Em meio a tantas manipulações, a importância de se manter crítico e atento se tornou ainda mais evidente.
Alerta sobre Deepfakes: Momento de Descanso na Festa de Natal
Foi um aviso que desencadeou um turbilhão do qual ela ainda não conseguiu se libertar. Duas mulheres alertaram em mensagens que uma foto de Ana ao lado de sua mãe, tirada em uma festa de Natal, havia sido manipulada e transformada em uma imagem em que ambas estavam nuas. Essa imagem falsa estava sendo compartilhada online juntamente com o link para o perfil de Ana no Instagram.
‘Minha mãe, a pessoa que mais amo na minha vida. Uma senhora religiosa de 65 anos. Só de lembrar da foto, de ter que rever a foto, eu fico mal. Ela não sabe até hoje o que aconteceu’, desabafa ela para a BBC News Brasil.
Apesar do impacto, a jovem bartender de 25 anos logo percebeu a conexão entre a imagem manipulada e uma postagem que ela havia feito no Facebook – era uma possível retaliação. Em maio, Ana havia compartilhado um alerta: membros de uma comunidade no Facebook estavam criando montagens pornográficas falsas a partir de fotos de colegas, vizinhas ou parentes.
Nessas manipulações, um corpo nu é inserido digitalmente no lugar do corpo vestido da pessoa na foto original. Ou o rosto da vítima é colocado em uma cena de sexo. Especialistas afirmam que o avanço rápido da inteligência artificial está tornando essas montagens, conhecidas como deepfakes, cada vez mais realistas.
São como os antigos ‘photoshops’, porém com habilidades ampliadas. Ana decidiu conduzir sua própria investigação para identificar os responsáveis por esse grupo. Ela observou que comunidades desse tipo geralmente são removidas do Facebook em algum momento, por violarem as regras da plataforma.
No entanto, ressurgem com nomes levemente diferentes pouco tempo depois e permanecem ativas por alguns dias até serem derrubadas novamente. É tempo suficiente, conforme Ana, para que essas páginas alcancem seu objetivo: promover comunidades de pornografia deepfake que operam dentro do aplicativo de mensagens Telegram.
O mesmo aconteceu com a página do Facebook onde a foto de Ana e sua mãe foi postada, que se transformou em uma comunidade no Telegram com quase 2 mil membros. Ana optou por ingressar no grupo e monitorar as atividades por lá.
‘Mulher é um ser maligno’ – A reportagem da BBC News Brasil testemunhou em tempo real os participantes da comunidade no Telegram solicitando deepfakes pornográficos a partir de fotos de mulheres que afirmavam conhecer. Após algum tempo, quem fez o pedido recebia de volta a imagem manipulada.
Uma das mensagens exibiu, por exemplo, uma selfie comum – sem grande produção ou atenção à iluminação – de uma mulher vestida. Logo em seguida, surgiu uma versão digitalmente alterada em que ela estava nua.
Participante 1: Quem é?
Participante 2: Mãe de um amigo meu kkkk
Nos diálogos mantidos no grupo, os participantes demonstravam uma postura de grande hostilidade em relação às mulheres.
Participante 3: Mulher calada ou tá lavando louça ou dando pro marido depois do trabalho
Participante 4: Ou apanhando
Participante 5: Mulher é um ser maligno e também é o ser mais falso da sociedade.
Fonte: © G1 – Tecnologia
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