Especialistas alertam para crise de violência a longo prazo, causada pela humanidade, casos de desastres climáticos e deslocamento de milhares. Secretaria de Seguridad preocupada.
PORTO ALEGRE, RS (FOLHA) – A situação de emergência decorrente das inundações no Rio Grande do Sul gerou um ambiente propício para o aumento da violência, não se limitando aos roubos em residências desocupadas, ao roubo de alimentos destinados às vítimas e aos incidentes de violência nos abrigos. De acordo com analistas da área de segurança, há o perigo de que a violência se intensifique no decorrer do tempo.
Diante desse contexto, é fundamental adotar medidas eficazes para evitar um aumento do confronto e da criminalidade na região afetada pelas enchentes. A prevenção de conflitos e a promoção da segurança dos cidadãos devem ser prioridades, visando garantir a proteção da população em meio à crise humanitária que assola o estado.
Violência em Meio à Crise Climática e Deslocamento de Milhares
A secretaria de Seguridad Pública do estado, por outro lado, assegura que está atenta a esse risco, analisa exemplos do impacto de desastres climáticos na segurança pública em todo o mundo para se antecipar aos problemas e está implementando medidas para reforçar o policiamento no estado. O alerta é feito com base em outros desastres climáticos, especialmente a passagem do furacão Katrina pelo Sul dos Estados Unidos, em 2005. Conforme especialistas, a confronto pode aumentar devido ao deslocamento de milhares de pessoas que perderam suas casas, aos danos incalculáveis à economia, ao crescimento do desemprego e à interrupção do acesso à escola.
No Rio Grande do Sul, há ainda o agravante de que as facções criminosas também sofreram prejuízos e foram deslocadas pela chuva. Isso pode levar a um aumento da violência, com as facções buscando compensar as perdas financeiras por meio de novos crimes e entrando em conflito com grupos rivais devido à mudança de território. As próprias facções tiveram danos em seus depósitos de droga e em sua capacidade de locomoção. E, quando isso ocorre, elas tentam recuperar isso por meio de outras atividades criminosas, conforme relata o professor Rodrigo Azevedo, da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica), membro do Fórum Brasileiro de Seguridad Pública.
Autoridades já indicaram que alguns dos saques a residências abandonadas durante as enchentes foram coordenados pela principal facção criminosa do estado, Os Manos. A polícia aumentou o patrulhamento em barcos após os primeiros relatos de furto, e o número de casos diminuiu em seguida. O Rio Grande do Sul vinha registrando uma queda na quantidade de mortes violentas e de crimes contra o patrimônio desde 2018. Houve uma quebra dessa tendência em 2022, com aumento nos homicídios dolosos, mas esses casos voltaram a cair no ano seguinte e no primeiro trimestre de 2024. A piora da violência em 2022 estava relacionada à disputa entre facções, de acordo com especialistas.
Os Manos, facção mais antiga do estado e que controla áreas da Grande Porto Alegre, Novo Hamburgo e São Leopoldo, e outros grupos criminosos menores, que atuam no interior gaúcho, estavam em conflito por território com uma facção chamada Bala na Cara. Esse confronto havia diminuído em intensidade ao longo do último ano e meio, mas Azevedo não descarta que ele possa se agravar devido ao deslocamento de centenas de milhares de pessoas devido às chuvas. ‘Há uma possibilidade de que essas facções se reorganizem, tanto em termos de atividades criminosas quanto em termos de disputa de território’, diz Azevedo. ‘Podem surgir novos conflitos em áreas que estavam relativamente estáveis e, como sabemos, isso geralmente está associado ao aumento das taxas de homicídio.’
O que mais preocupa o especialista, no entanto, é o anúncio de que serão construídas ‘cidades temporárias’ para desabrigados – que hoje são mais de 70 mil pessoas. O temor é que isso resulte na formação de novos bairros onde a violência possa se intensificar.
Fonte: © Notícias ao Minuto
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