Diálogos sobre grandes obras, traumas e auto-cuidado. Psicólogo americano reflete sobre dependência da atenção alheia, vício, álcool, jogo e abuso.
Por mais de duas décadas, eu estava convencido de que o universo conspirava contra mim. Tudo parecia conspirar contra mim, como se eu fosse um personagem de drama, aprisionado em uma trama sem fim. Meus dias eram uma série de conflitos, traições, decepções e perdas que pareciam nunca terminar. Eu me sentia um ator principal em uma peça de teatro, onde cada cena era uma nova batalha para superar.
No entanto, com o passar do tempo, comecei a perceber que eu não era apenas uma vítima do destino. Eu estava criando meu próprio drama, alimentando-o com meus pensamentos e emoções. Os embates internos que eu enfrentava eram mais intensos do que qualquer desafio externo. Eu precisava aprender a lidar com meus problemas de forma mais saudável, em vez de me render ao drama que eu mesmo criava. Com essa nova perspectiva, comecei a escrever um novo roteiro para a minha vida, um que me permitisse ser o autor do meu próprio destino, em vez de apenas um ator em uma peça de teatro. A mudança começa dentro de nós.
Drama: uma forma de sobrevivência?
Eu sempre pensei que o drama era algo que simplesmente fazia parte da minha vida, que era algo normal. Achava que precisava de situações intensas e estressantes para encontrar um momento de calma e descanso. No entanto, percebi que estava criando conflitos e embates e inventando drama em cada oportunidade. As pessoas podem ter pensado que era para chamar atenção, mas a verdade é que o drama era minha forma de sobrevivência.
Minha infância foi marcada por gerações de abuso e vício em álcool, drogas e jogo, o que criou um ambiente instável e caótico. Eu passei a esperar o inesperado e o amor era demonstrado através de humor subversivo. Eu aprendi a atuar para todos verem e passei a infância desconectado do meu corpo, em busca de momentos em que sentia ser aceitável voltar para meu centro.
Na escola, eu sofria bullying tanto dos alunos quanto dos professores e me sentia preso, sem ter para onde correr. Aos 13 anos, fingi meu próprio suicídio, querendo punir meus pais, meus colegas da escola e meus professores por me causarem tanta dor e por não me protegerem nem me ajudarem.
O drama era tudo para mim e, depois da escola, eu até o transformei em profissão. Trabalhando como ator, diretor e coreógrafo profissional, estava sempre sob estresse. Meu trabalho era uma fonte constante de drama e conheci um parceiro que desencadeou toda a minha dor e disfunção profundamente enterradas e as trouxe para a superfície.
Eu sempre achei que fosse bom lidando com o estresse, mas percebi que estava usando o estresse para prosperar. Minha tolerância para disfunção, crise e caos estava sendo levada ao limite e logo ficou claro que precisava mudar.
Fonte: @ Veja Abril
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